Relato de Processo de Trabalho
>> terça-feira, 29 de dezembro de 2009
Atriz do Grupo OTO faz Relato de processo de Trabalho do Grupo
O grupo OTO começou seu trabalho no ano de 2006, tendo por objetivo apresentar a peça “Um operário em construção” de Vinícius de Morais. Na construção dessa obra muitas vezes ouvia-se dizer que eram situações do cotidiano dos brasileiros, sim! Mas de quem estávamos falando? Sentia-se que o grupo não estava totalmente envolvido nesse trabalho. Com o desenrolar das coisas começamos a ter conhecimento dessa magnífica obra. Principalmente por se tratar de política e religião que é um assunto que tanto incomoda, começamos a perceber que nós jovens de periferia tínhamos um trunfo nas mãos, como foi bom perceber que nós simples adolescentes tínhamos o poder de levar a arte para os alunos de todas as áreas, e inseri-la como um meio de expressão de todas essas realidades.
O trabalho não parou por aí com os jogos e discussões encontramos um ponto em comum no grupo todos ali presentes sofrera certa forma de abuso policial durante uma revista, não deu outra montamos logo um fórum, mas dessa vez um fórum consciente sobre o que era TO e o que representava.Com as apresentações e estudos notou-se que o problema não era de um único aluno oprimido mas sim de todos, alguns eram mais abusados que outros mas todos pertenciam a mesma classe oprimida. Fomos criticados por muitos e até vaiados, só por permitirmos fórum a qualquer um dos alunos. Mais aí me vem à cabeça uma pergunta que deixarei em aberto: “Porque representar um único aluno oprimido se todos representam a mesma classe, e sofreram praticamente o mesmo tipo de abuso?”
Com o desenvolver das técnicas de Boal e pensando nessas e em outras questões o grupo começou a tomar consciência que o trabalho com teatro fórum já não era tão eficiente, pois já conhecíamos as técnicas de fórum e estávamos procurando “boas opressões” para representar, já não era mais a forma “humanizada” de fazer teatro, mas sim uma forma mecanizada que estava incrustando no grupo. Surgiu então à necessidade do “novo” uma forma mais crítica e que causasse mais incomodo nas pessoas, começamos a ler a fazer vários experimentos e finalmente chegamos a conclusão que a peça deveria se alto curingar. Depois de muito experimentar... Mãos as obras começam a montagem de “Júlia z, uma história como qualquer história”. As pesquisas continuaram e através do teatro jornal notou-se que um jovem de alto poder aquisitivo quando morre nas drogas a mídia transforma em uma novela e as pessoas se deixam influenciar revoltando-se, fazendo passeatas pela paz, agora quando é pobre ninguém quer, pois já é algo redundante acontece todo dia. Pensando nisso o grupo OTO resolveu ir além e se propôs a mostrar o porquê esse jovem de periferia acaba entrando nas drogas.
Com as apresentações notamos que essa “nova” forma havia nos dado uma resposta muito positiva, pois além de todo o grupo estar envolvido e realmente saber de uma forma crítica o que estávamos fazendo e o porquê, as pessoas identificavam-se diferente do fórum, pois muitas vezes as pessoas olhavam pro fórum e não tomavam aquele problema pra si. Nas apresentações de Júlia muitas vezes ouvia-se alunos dizerem que estávamos contando a história dele ou de algum conhecido, outras vezes nos emocionávamos, pois esses alunos vinham nos contar suas histórias e isso nos ajudava a acrescentar mais coisas na obra e enrriquece-la cada vez mais.
Apesar de recebermos várias críticas com essa forma de fazer TO, acreditamos que toda e qualquer forma de expressão que lute em prol dos mesmos objetivos de forma clara e direta é de grande valia, pois não devemos dividir as forças e sim uni-las. E porque não começar com a junção das várias formas efetivas de teatro?
Kessy Cristini
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Kessy Cristini